O complexo logístico exporta 30% do petróleo brasileiro
Segundo noticiou o site especializado Click Petróleo e Gás, na segunda-feira (9), a estatal chinesa adquiriu 70% do Porto do Açu, em São João da Barra. O negócio, firmado com a brasileira Prumo Logística e sua subsidiária Açu Petróleo Investimentos, ainda depende da aprovação de órgãos reguladores, mas já causa repercussão. O motivo é simples: o terminal em questão é o único da América do Sul capaz de receber navios do tipo VLCC (Very Large Crude Carrier), fundamentais para escoar grandes volumes de petróleo.
Atualmente, o Porto de Açu movimenta cerca de 560 mil barris por dia, com capacidade licenciada para até 1,2 milhão de barris diários. Isso equivale a cerca de 30% das exportações brasileiras de petróleo, tornando a infraestrutura um ativo estratégico não só para o Brasil, mas também para o mercado global de energia.
De acordo com a publicação, a compra do terminal do Açu não é um movimento isolado. Faz parte de uma estratégia mais ampla da China de consolidar presença em portos da região. Em 2018, a CMPORT já havia adquirido o Terminal de Contêineres de Paranaguá, o maior da América do Sul. Além disso, o grupo chinês está envolvido em projetos no Porto de Santos e na construção de um novo terminal no Maranhão.
Segundo o professor Marcos Pedlowski, da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), trata-se de uma estratégia explícita: “Os casos de Chancay [megaporto chinês recém-inaugurado no Peru], Paranaguá e Açu são apenas alguns exemplos da penetração das empresas chinesas em áreas portuárias e outras estruturas de manuseio de commodities na América do Sul”, afirmou em entrevista ao Diálogo.
Pedlowski alerta que esses investimentos criam riscos para a soberania nacional, além de dificultar o monitoramento do trânsito de mercadorias pelo país anfitrião.
O controle de um terminal tão sensível por uma estatal chinesa gera apreensão. Segundo Pedlowski, o Porto de Açu já enfrenta dificuldades de fiscalização por parte das autoridades nacionais. O risco, portanto, é que com o controle da CMPORT, o acesso às informações e à operação do terminal se torne ainda mais restrito.
Imagine o seguinte cenário: uma potência estrangeira passa a controlar parte fundamental da infraestrutura de exportação de petróleo do seu país. Parece ficção, mas é o que está acontecendo no Brasil com a China. O gigante asiático está expandindo agressivamente sua presença nos portos da América do Sul, e o Terminal de Petróleo de Açu, no Rio de Janeiro, virou mais um alvo estratégico.
O movimento gera preocupações não só no setor logístico, mas também entre especialistas em soberania e segurança nacional. Afinal, estamos falando de um terminal que lida com quase um terço das exportações brasileiras de petróleo.
O que está em jogo com a nova aquisição chines
A ofensiva mais recente da China acontece por meio da China Merchants Port Holdings (CMPORT), braço do poderoso grupo estatal China Merchants Group (CMG). No final de fevereiro, a CMPORT anunciou a assinatura de um contrato para adquirir 70% do terminal de petróleo bruto operado pela VAST Infraestrutura, no Porto do Açu.
O negócio, firmado com a brasileira Prumo Logística e sua subsidiária Açu Petróleo Investimentos, ainda depende da aprovação de órgãos reguladores, mas já causa repercussão. O motivo é simples: o terminal em questão é o único da América do Sul capaz de receber navios do tipo VLCC (Very Large Crude Carrier), fundamentais para escoar grandes volumes de petróleo.
Atualmente, o Porto de Açu movimenta cerca de 560 mil barris por dia, com capacidade licenciada para até 1,2 milhão de barris diários. Isso equivale a cerca de 30% das exportações brasileiras de petróleo, tornando a infraestrutura um ativo estratégico não só para o Brasil, mas também para o mercado global de energia.
Expansão sistemática da China nos portos da América do Sul
A compra do terminal de Açu não é um movimento isolado. Faz parte de uma estratégia mais ampla da China de consolidar presença em portos da região. Em 2018, a CMPORT já havia adquirido o Terminal de Contêineres de Paranaguá, o maior da América do Sul. Além disso, o grupo chinês está envolvido em projetos no Porto de Santos e na construção de um novo terminal no Maranhão.
Segundo o professor Marcos Pedlowski, da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, trata-se de uma estratégia explícita: “Os casos de Chancay [megaporto chinês recém-inaugurado no Peru], Paranaguá e Açu são apenas alguns exemplos da penetração das empresas chinesas em áreas portuárias e outras estruturas de manuseio de commodities na América do Sul”, afirmou em entrevista ao Diálogo.
Pedlowski alerta que esses investimentos criam riscos para a soberania nacional, além de dificultar o monitoramento do trânsito de mercadorias pelo país anfitrião.
Os temores por trás do avanço chinês: diplomacia da armadilha da dívida
A atuação do grupo CMG em portos globais já levantou suspeitas em outros países. O caso mais emblemático é o do porto de Hambantota, no Sri Lanka. Em um clássico exemplo de “diplomacia da armadilha da dívida”, o governo do país asiático, incapaz de pagar empréstimos chineses, entregou 80% do controle do porto à CMG, junto com um contrato de arrendamento de 99 anos.
Mesmo que o porto tenha sido concebido para fins civis, a China chegou a enviar um navio de pesquisa militar para Hambantota em 2022, evidenciando o potencial de uso estratégico das instalações.
Impactos para o Brasil: riscos de “sinicização” da infraestrutura portuária
No caso brasileiro, o controle de um terminal tão sensível por uma estatal chinesa gera apreensão. Segundo Pedlowski, o Porto de Açu já enfrenta dificuldades de fiscalização por parte das autoridades nacionais. O risco, portanto, é que com o controle da CMPORT, o acesso às informações e à operação do terminal se torne ainda mais restrito.